Separadores

sábado, 13 de abril de 2013

Pensamento - nada 20: Conto (mais ou menos) erótico

Este foi um conto mais ou menos erótico escrito por mim, há dois anos (por isso, dêem-me um desconto), a pedido de uma amiga que estava apaixonada por uma professora.



Sofia


"Era um sonho - apenas mais um, que provavelmente nunca se realizaria.
A sala era-me familiar: as paredes amareladas revestidas de inúmeras prateleiras repletas de livros, algures o velho relógio de pêndulo marcava, num círculo regular e contínuo, as horas e, lá fora, a bruma desfazia-se em milhentas gotas de chuva que fustigavam a janela.
Mas apesar de me ser tudo tão conhecido, tão familiar, tão igual ao que era todos os dias quando lá ia, logo soube que se tratava de um sonho; sentia que tudo à minha volta se movia numa lentidão desprendida, de forma surreal e paralela a mim, como submergido num líquido invisível fazendo-me sentir totalmente livre, como em todos os sonhos.
Olhei para o meu lado esquerdo: sentada ao meu lado, ela estava lá, o seu rosto contido num ar compenetrado, o seu pescoço bronzeado, as suas mãos grandes, delicadas e suaves…o meu subconsciente tinha conseguido uma réplica exacta do que ela era. Não me admirava. Já vira e revira a sua imagem milhares de vezes na minha mente, já sabia de cor cada traço do seu rosto, as suas expressões, o seu sorriso. Já tantas vezes mergulhara, me afundara, me perdera no seu olhar hipnotizante…
Finalmente, um pouco hesitante, mas determinada, coloquei a minha mão sobre a sua. Os seus olhos cravaram-se em mim. Tomei coragem e fitei-os directamente. Brilhavam, de felicidade. Os meus, tinha a certeza, ardiam em desejo, tal como o resto do meu corpo.
Comecei a perder-me neles novamente, naquele mar aveludado, naquele brilho sedutor e sentia-me totalmente hipnotizada; naquele momento, não existia mais nada no mundo – só eu, ela e o enorme desejo e paixão que sentíamos e que se adensava no ar à nossa volta, à medida que nos aproximávamos mais uma da outra, tornando-se quase palpável, quase respirável.
Sem me consciencializar, levantei-me e ela seguiu-me o exemplo. Quando reparei, estávamos de pé, abraçadas frente a frente. Meto as mãos na sua camisola, de encontro à pele macia das suas costas e sinto-as a viajar de uma forma que a faz gemer baixinho. Estávamos tão próximas que os nossos narizes se tocavam e conseguíamos sentir a respiração uma da outra. Nunca me desprendi dos seus olhos, que por vezes se fechavam, enquanto gemia ao meu toque. Senti-a a arrepiar-se sob os meus dedos a cada gesto meu, o que me fazia desejá-la mais e mais…
Todo o seu corpo suplicava pelo meu. Aperta-me contra si, respirava ofegantemente, balbucia o meu nome. Através da minha linguagem corporal, entende que quero que se vire de costas para mim e logo me obedece. Tiro-lhe a camisola, deixo que se incline para trás, encostando as costas ao meu peito e barriga, e pousando a sua cabeça no meu ombro. Coloco as mãos sobre a sua barriga e beijo o seu pescoço; a sua pele é macia e deliciosa e sinto-me intoxicada pelo calor e perfume que dela se desprendem. Simplesmente, sinto-me totalmente incapaz de parar de a acariciar.
À medida que subo as minhas mãos, a minha boca vai também abandonando o seu pescoço. Mordo-lhe ligeiramente uma orelha, o que a faz estremecer incrivelmente, e quando vira totalmente o rosto na minha direcção para beijar a sua boca, subo definitivamente as mãos de encontro aos seus seios. O nosso beijo vai-se tornando cada vez mais envolvente e quase que vou a loucura quando sinto as suas mãos sobre as minhas, implorando para que apertasse o seu peito com força…
Depois, simplesmente, acordo. Emerjo daquele sonho onde o prazer reinava para a realidade do meu quarto e, ali, por momentos, deitada e agitada na escuridão, sinto-me atordoada e muito, muito sozinha. Estendo o braço para o interruptor e a luz acende-se. Inconscientemente, olho em meu redor: tudo à minha volta se mantém pacifico, quieto, como que em repouso, em contraste com a revolução a rebenta dentro de mim. Levanto-me, abro a porta do meu quarto e saio para o corredor, onde tudo está mergulhado na penumbra, agora um pouco anulada pela luz que vem do meu quarto. Dirijo-me à casa de banho, entro e fecho a porta atrás de mim.
A casa de banho é grande, e aqui a temperatura está consideravelmente mais baixa em relação às outras divisões da casa, o que, neste momento me faz sentir grata.
Olho-me ao espelho: o cabelo desgrenhado, os olhos febris e o prenúncio de umas horríveis olheiras dão-me um ar decididamente tresloucado. Levo a mão à testa e tenho a sensação de estar a arder em febre.
Porquê? pergunto a mim mesma Porquê que a quero tanto?!  
Decido reagir e não pensar mais nesse assunto. Não por agora.
Pego na minha escova, penteio-me metodicamente e prendo os meus cabelos negros. Depois, abro a torneira e, com as mãos em concha, levo a água à cara, sentindo-me imediatamente refrescada. Tiro a camisola do pijama e faço o mesmo ao pescoço, braços e ombros. Limpo-me, saio da casa de banho e regresso ao meu quarto.
Volto à cama, cubro-me, apago a luz e deixo-me afundar num sono profundo e sem sonhos."

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